Transformação Digital com sabor brasileiro

11 de dezembro de 2025

por Silvia Bassi, Publisher do The Shift

Transformação Digital com sabor brasileiro

A Ajinomoto do Brasil está provando que projetos globais de inovação também podem ter tempero local. A subsidiária brasileira da gigante japonesa – referência em aminoácidos e detentora de marcas como SAZÓN®, MID® e VONO® – desenvolveu a plataforma EIA (Ecosystem Integration Ajinomoto), uma iniciativa que reorganiza toda a cadeia de valor da empresa em um ecossistema digital integrado, mirando garantir que as metas de DX até 2030 aconteçam com tecnologia, negócios e pessoas.

Mais do que automatizar processos, a EIA nasce como projeto brasileiro dentro de uma estratégia global de transformação digital (DX). “A EIA é um ecossistema integrador. O que ela faz é harmonizar processos, dados e pessoas para criar valor econômico e social real”, diz Alexandre Telles, diretor de Tecnologia, Digital e Procurement da Ajinomoto Brasil. A plataforma abrange áreas como Produção, Logística, Vendas, Atendimento ao Cliente, P&D e Supply Chain, e já se tornou um modelo de referência para as demais unidades da companhia na América Latina.

A plataforma também é, segundo Alexandre, um case de “DX com propósito”: integra IA, automação e dados em larga escala, mas também está profundamente alinhada aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, reforçando o compromisso da Ajinomoto em unir eficiência, inovação e impacto positivo na sociedade.

Alexandre Telles tem uma carreira de mais de 30 anos na Ajinomoto, atuando no Brasil e no Japão. Nesse novo cargo há quatro meses, ele detalha nessa entrevista como a empresa está redesenhando sua cultura, estrutura e propósito para impulsionar a transformação digital — com tempero brasileiro. A seguir, você lê uma edição com os melhores momentos da entrevista. Para a entrevista completa, convido você a acessar o site da The Shift.

Da excelência operacional ao DX

A transformação digital da Ajinomoto começou em 2016, baseada em nosso DNA de excelência operacional, muito influenciado pela cultura japonesa. Naquele momento, o foco era otimizar processos e energia nas fábricas. Em 2020, veio o DX global (Digital Transformation), lançado pela matriz, e nós aderimos com força total.

Em 2023, criamos a plataforma EIA (Ecosystem Integration Ajinomoto), que conecta todas as cadeias de valor da empresa – das unidades fabris às áreas comerciais e corporativas. Ela surgiu como resposta à necessidade de orquestrar processos e informações, reduzindo silos e criando um ambiente colaborativo que favorece a inovação e a excelência operacional.

Esse projeto brasileiro acabou ganhando visibilidade dentro do grupo global justamente por conseguir estruturar de forma prática o que o programa DX prega conceitualmente: transformar dados e processos em decisões mais inteligentes e sustentáveis.” 
 

Integração dentro e fora da empresa

O grande objetivo é romper os silos e criar pontes com o ecossistema externo – fornecedores, clientes e parceiros. A plataforma conecta dados de múltiplas fontes e permite cocriação de valor com toda a cadeia. Assim, podemos gerar insights em tempo real e antecipar tendências de mercado.

Trabalhamos com quatro estágios de maturidade:

  1. Transformar o ecossistema interno;
  2. Integrar cadeias de valor;
  3. Transformar o modelo de negócio (DX 3.0);
  4. Transformar a sociedade (DX 4.0).

Hoje já temos boa maturidade nos dois primeiros níveis, e estamos avançando para o 3.0, com foco em novos negócios e impacto social. O 4.0 é o nosso horizonte até 2030 – o momento em que a tecnologia deixa de ser fim e se torna meio para gerar valor econômico e social sustentável.”


Cultura, educação e IA

Transformação digital é, antes de tudo, transformação de pessoas. Nosso primeiro passo foi educar e conscientizar sobre o uso da tecnologia como habilitadora de novos negócios.

A Inteligência Artificial tem papel central nisso. Já usamos Machine Learning e Deep Learning em várias frentes:

  1. Cibersegurança: identificando vulnerabilidades e disparando alertas;
  2. Cadeia produtiva: inspeção de imagens e controle de qualidade de produtos;
  3. Recursos Humanos: na triagem e análise de candidatos;
  4. Planejamento de vendas e produção: otimizando previsões e estoques.

Mas nosso foco agora é disseminar a IA Generativa, com um projeto global chamado AGI-AI, uma solução encapsulada e segura, inspirada no ChatGPT. Ela funciona como plataforma educacional, incentivando os colaboradores a aprender a criar prompts e experimentar.

Estamos construindo uma cultura em que todos possam usar a IA de forma prática e responsável – não apenas como modismo, mas como ferramenta de aprendizado, produtividade e inovação.”

Governança, indicadores e tecnologias habilitadoras

Desde 2017, trabalhamos com business cases vivos, ajustados conforme evoluem a estratégia e o mercado. Nossos resultados são avaliados em cinco pilares: aumento de vendas, redução de custos, expansão de negócios, eficiência e produtividade, e mitigação de riscos.

A EIA permite alinhar essas métricas à estratégia corporativa, facilitando a priorização e a conversa com o board. Estamos também estruturando a governança de dados via data lake, reduzindo redundâncias e aumentando a eficiência na tomada de decisão.

Entre as tecnologias habilitadoras estão a IA (com GPT interno), Digital Twins aplicados à manufatura e soluções de automação avançada. Além disso, temos um compromisso global com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU. Isso inclui iniciativas concretas de redução do consumo de dados e CO₂, como programas de data cleanup que diminuem o uso de servidores e otimizam o armazenamento em nuvem.”

TI como parceiro de negócio e visão 2030

A TI deixou de ser área de suporte e passou a atuar como parceira estratégica do negócio. Criamos um modelo de business partners, com profissionais de tecnologia integrados nas áreas operacionais para entender o negócio e falar sua linguagem.

Atualmente, eu me reporto ao COO da Ajinomoto, que integra o board e responde diretamente ao CEO. Isso assegura que a tecnologia esteja conectada à estratégia operacional e corporativa.

Nosso desafio é garantir que a transformação digital avance de forma transversal, eliminando silos e fortalecendo a colaboração. O board já reconhece a tecnologia como investimento e ativo de decisão estratégica, o que acelera a inovação.

Até 2030, queremos atingir o DX 4.0, em que a Ajinomoto não apenas transforma seus negócios, mas também contribui ativamente para a transformação da sociedade, com novos produtos, serviços e processos sustentáveis. A plataforma EIA é o motor dessa jornada – feita no Brasil, mas com impacto global.”

 


 

Conteúdo originalmente produzido e publicado por The Shift.
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