Na primeira onda de transformação digital, a área de Recursos Humanos foi uma das primeiras a experimentar os desafios de aprendizagem e adaptação e uma das últimas a se beneficiar das vantagens. No novo modelo de trabalho que está chegando, em que pessoas irão trabalhar dentro da mesma estrutura com agentes de IA, o RH terá de elevar seu papel como “parceiro de negócios”, de acordo com um estudo recente da Deloitte.

O que é IA Agêntica?

A IA Agêntica é mais do que uma ferramenta de automação: trata-se de um sistema que compreende o contexto, raciocina de forma autônoma, toma decisões, aprende com interações anteriores e se comunica com humanos e outros agentes para cumprir objetivos organizacionais.

Segundo a Deloitte, os agentes de IA se diferenciam por sete capacidades principais:

• Entendimento (compreensão de linguagem natural)
• Planejamento (raciocínio e encadeamento de decisões)
• Execução (realização de tarefas com eficiência)
• Reflexão (melhoria contínua com base em feedback)
• Coordenação (sincronização com outros agentes ou humanos)
• Comunicação
• Delegação (atribuição de tarefas com base em especialização)

Essas capacidades permitem à IA operar com autonomia crescente em processos de RH, de análises preditivas a workflows personalizados.

Da automação incremental à transformação estrutural

Com a automação das tarefas administrativas, os RHPNs (RH Parceiro de Negócios ou HRBP no inglês) ganharão tempo para se concentrar em atividades de maior valor agregado. O relatório “HR Reimagined” divide a jornada de adoção da IA em três estágios:

1. Incremental: uso de IA incorporada em sistemas para pequenas melhorias.
2. Transformacional: uso de IA para repensar processos e ampliar capacidades.
3. Reimaginado (Agentic): reconfiguração total da função de RH com humanos e máquinas operando em colaboração dinâmica.

Neste último estágio, a IA é usada para automatizar processos de ponta a ponta, criar eficiências escaláveis e transformar a experiência da força de trabalho.

O relatório detalha como diferentes atividades de RH estão sendo redistribuídas entre humanos e IA:

A tendência é de uma migração gradual do trabalho humano para tarefas assistidas e, eventualmente, operadas por IA – liberando os profissionais de RH para atividades mais estratégicas.

Como será o RH Parceiro de Negócios do futuro:

• Baseado em dados e análises preditivas;
• Com fluência em IA e ferramentas digitais;
• Capaz de entregar insights personalizados a líderes;
• Mais proativo, menos reativo.

Capacidades humanas duráveis que serão reforçadas com IA:

• Inteligência emocional
• Pensamento crítico
• Geração de insights
• Influência e negociação

O futuro das áreas de especialidade (COEs)

As áreas de Center of Excellence (COEs), como Recompensas Globais, passarão a ser “AI-augmented”, com a IA ajudando a:

• Atualizar políticas em tempo real com base em dados internos e externos.
• Personalizar comunicações e responder a dúvidas de forma automatizada.
• Propor estratégias com base em análises contínuas.
• Acompanhar tendências para revisão de programas de forma preditiva.

Segundo a Deloitte, a IA assumirá até 80% das tarefas administrativas nas COEs, permitindo foco em inovação, estratégia e gestão da experiência do colaborador.

Operações de RH reinventadas

Nas operações de RH, os sistemas agênticos terão papel central. Segundo o relatório, 80% do trabalho administrativo e operacional será realizado por soluções de IA, liberando o RH para escuta ativa e melhoria contínua da experiência do colaborador.

Exemplos de transformação:

• Antes: RH recebia solicitações e atualizava conhecimento manualmente.
• Depois: IA monitora padrões, atualiza bases de conhecimento automaticamente e realiza tarefas operacionais.

No caso de um retorno de licença, por exemplo, o sistema detecta automaticamente que um funcionário está para retornar de licença, aciona o fluxo de tarefas, avisa o gestor, oferece orientações e confirma o retorno. O processo é personalizado por função, localização e tipo de licença.

Em outro exemplo, em que há risco de perder um talento, a IA detecta sinais de que um funcionário de alto desempenho está em risco de sair (tempo de casa, salário, mercado etc.), sugere ações ao gestor, auxilia na escolha de um reconhecimento apropriado e coleta feedback para aprendizado futuro.

IA para empoderar a força de trabalho

A Deloitte lista oito categorias de uso que a IA oferece aos colaboradores, com diferentes níveis de adoção:

1. Acesso ao suporte
2. Perguntas e respostas personalizadas
3. Solicitação de dados
4. Transações simples (ex.: atualizar contatos)
5. Transações complexas (ex.: onboarding)
6. Alertas proativos (nudges)
7. Análises e insights preditivos
8. Apoio à execução de tarefas (ex.: escrever business cases)

Essas aplicações colocam o colaborador no centro, com jornadas mais ágeis e intuitivas.

Arquitetura e tecnologia por trás da IA Agêntica

A adoção da IA Agêntica exigirá mudanças na arquitetura dos sistemas de RH. A Deloitte propõe o uso de sistemas multiagentes (MAS), com diferentes camadas:

• Experiência do usuário: interface web, chatbot ou mobile
• Camada de IA e orquestração: raciocínio, memória e aprendizado
• Camada de dados: insights analíticos, repositórios, dados estruturados e não estruturados
• Camada de aplicativos: integração com sistemas de folha, benefícios, LMS etc.

Essa abordagem integrada permite escalar os agentes para atuar em diferentes domínios da organização, com governança e segurança.

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