Marisa Maiô vende, QConcursos fatura... e você ainda pede autorização pra testar a IA?

23 de junho de 2025

por Redação The Shift

Marisa Maiô vende, QConcursos fatura... e você ainda pede autorização pra testar a IA?

Nesse mundão da IA tem novidade todo dia. Nada está escrito em pedra, tudo muda, todo dia, ao mesmo tempo. Este é, provavelmente, o momento experimental mais agitado da história da tecnologia. Portanto, o terreno tem mais peso que o mapa: é preciso prestar atenção aos sinais que aparecem no caminho e se abrir para incorporar coisas novas na jornada. Nas últimas semanas, duas histórias brasileiras trazem lições importantes sobre a atitude corporativa frente ao novo. Juntamos as duas aqui:

Podia ser só uma grande brincadeira ironizando programas de auditório, mas a debochada apresentadora fictícia Marisa Maiô, criada pelo escritor e produtor carioca Raony (Rao) Phillips, 32 anos, com as plataformas de geração de vídeos Veo 2 e Veo 3, da Google, se transformou em sucesso instantâneo e viralizou: mais de 30 milhões de views desde o início de junho. Tudo é artificial, criado, 100%, pela IA, com os roteiros de Raony, que ficou conhecido pela série animada “Girls in the House”, que produz desde 2015 com personagens do game The Sims.

Marisa Maiô apareceu nas redes na primeira semana de junho. No dia 7, o Magalu contratou uma campanha de publicidade com a apresentadora para o Dia dos Namorados. “Fomos rápidos em incluir a Marisa Maiô em nossa estratégia”, conta Aline Izo, gerente sênior de marketing da Magalu ao B9. Depois vieram OLX e Mercado Pago. Neste último, o maiô preto da apresentadora até mudou de cor (ficou amarelo, para combinar com a marca).

Essa ação não é sobre venda imediata. É sobre ocupar a mente do consumidor, escreveu Flávio Beraldo, COO da Ciclo E-Commerce e especialista em ROI. A decisão de pular no cavalo selado criado por Raony Philips não teve conexão com nenhuma métrica conhecida de marketing e vendas. Mas gerou, segundo Beraldo, um aumento de 400% nas buscas pela marca e 10 dias no topo das conversas online com impacto orgânico em múltiplas audiências.

US$ 3 milhões em 48 horas?

A EdTech brasileira QConcursos, fundada em 2013, se define como uma plataforma educacional para soluções de empregabilidade. Foca-se prioritariamente em preparar pessoas para as provas dos concursos públicos que abundam no país. Com mais de 500 mil usuários pagantes e 6,2 milhões de visitantes únicos por mês, transformou-se na maior EdTech brasileira.

Este mês, transformou-se também em um caso emblemático da Lovable, a startup sueca de IA dedicada a facilitar a criação de código de programação, permitindo criar softwares e aplicativos rapidamente. Tudo por causa desse post, publicado por um dos founders da Lovable, Anton Osika: dois produtos da QConcursos, incluindo o novo ProUniversitário, criados em duas semanas com uso da Lovable, teriam captado US$ 3 milhões em receitas e 7 mil novos usuários, 48 horas após lançados.

Ressalva: o post de Osika foi publicado no momento em que a empresa se prepara para captar mais US$ 100 milhões em investimento de risco, elevando seu valuation para US$ 1,5 bilhão. Timing é tudo, mesmo para uma startup que já tem uma receita recorrente de US$ 50 milhões, cobrando US$ 25 por usuário.

Mas a história continua em um post no LinkedIn, em que Brento Andersen, diretor de engajamento de comunidade da Lovable, detalha a conversa com Caio Moretti, CEO do grupoQ, sobre a história: o que começou como um projeto experimental de dois funcionários (carinhosamente chamados de equipe Marshmallow, por que não?) experimentando o Lovable levou a uma mudança fundamental na forma como a empresa enxerga suas futuras operações de desenvolvimento.

Na discussão que se seguiu no post, Moretti confirma a história, mas lembra que a empresa já partiu de uma sólida base de usuários e do uso intensivo de outras ferramentas de aquisição de clientes, como a plataforma de marketing digital Ahrefs, e que a receita veio de um produto premium.

O fato de a QConcursos apostar em um projeto de dois programadores e ver a experimentação com a IA se transformar em receita é o ponto alto dessa história. Como bem escreve Andersen: Isso não significa uma redução nos recursos necessários, mas sim um aumento na capacidade de lançar mais produtos e alcançar melhores resultados
 

Moral das histórias, para pensar:

Sua empresa está preparada para tomar esse tipo de decisão experimental? Ela tem, dentro de casa, pessoas caçando sinais de oportunidade enquanto segue sua jornada de transformação? Tem budget acionável, sem muitas perguntas, para experimentar? Está preparada para mudar radicalmente o jeito como faz as coisas?


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